terça-feira, 11 de novembro de 2008

Para quem não conhece o Vietnã

Muitos dos meus amigos ficaram absolutamente surpreendidos com a notícia de que eu pretendia passar férias no Vitenã . Entendi que a surpresa era mais pelo desconhecido do que pela certeza.

Fiquei pensando que devia ser essa a reação de muitos estrangeiros quando decidem visitar o Brasil: alguns pensam que vivemos na selva amazônica, outros não creem que comemos frangos ou carnes - pensam que comemos tigres, leões- esse comentário é uma experiência real que tive.

Portanto, para colaborar com o aumento da cultura asiática, pesquisei um pouco sobre quem é esse país chamado Vietnã.

  • O PIB durante o período de 1990 a 2006 cresceu em média de 7.6% anual, um dos mais altos de toda a região e do mundo. Em 2007, o crescimento do PIB alcançou o recorde de 8.5%.
  • Em 2000 alcançou as metas de desenvolvimento do milênio estabelecidas pela ONU, enquanto que a meta específica sobre a redução da pobreza foi alcançada 10 anos antes: redução de 58% em 1993, de 19% em 2006 e de 14.75% em 2007, ficando muito abaixo do índice de pobreza mundial.
  • Dos membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), o Vietnã tem o crescimento mais elevado e rápido do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que aumentou para 0,610 em 1990, 0,691 no ano de 2002 e para 0,733 em 2007.
  • O Vietnã é um destino de preferência para muitos turistas: em 2007, o país recebeu mais de 4 milhões de turistas (um aumento de 16% sobre 2006) e ainda está acima da média de 2,6 milhões de turistas dos primeiros 7 meses de 2008 (um aumento de 10,6% contra o mesmo período de 2007).
  • Hoje, mais de 80 países estão investindo em 9.500 projetos no Vietnã, com um capital de mais de 100 bilhões de dólares. O Índice de Confiança aumenta a cada ano (21,5 bilhões de dólares em 2007 e de 45,28 bilhões de dólares nos primeiros 7 meses de 2008).
  • A adesão do Vietnã à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2006, marcou sua plena integração à economia mundial e atraiu grandes oportunidades ao comércio e investimentos para o país.

domingo, 5 de outubro de 2008

Os Simbolismos

Os vietnamitas são um povo muito místico e esse misticismo percorre as cores das roupas, os signos do Zodíaco, a decoração dos ambientes (Feng Shui) e até a forma com que os pratos são levados à mesa.

No almoço no Delta do Mekong tivemos um belo peixe para alimentar nossas lombrigas. Ele nos foi apresentado numa bandeja na posição em pé apoiado em duas hastes de madeira. A princípio pensei que fosse apenas um jeito diferente de organizar um prato, mas logo soube que lá não se come peixe se vier deitado no prato (como estamos acostumados a ver), pois é um mau agouro significando que o barco que pescou aquele peixe vai afundar.

Todo barco que navega nos canais do Rio Mekong possuem em sua proa um par de olhos para sempre apontar para o caminho certo de navegação. Esqueçam o GPS, o negócio por lá é seguir o misticismo.

O que chama a atenção é que todos seguem e entendem os mesmos símbolos ao longo de muitas gerações. A importância e o significado desses símbolos não se perderam nos vários anos de história e de tantas guerras.

Os Casamentos

Casamento no Vietnã possui tradições muito diferente dos hábitos ocidentais. Os noivos seguem juntos para o local da cerimonia, mas somente a mãe da noiva pode estar ao lado dela no momento da maquiagem. As damas de honra devem ser, necessariamente, virgens e são escolhidas dentro das famílias dos noivos ou amigas da noiva.

As cerimonias costumam começar às 4 da manhã, isso mesmo, de madrugada e seguem por todo o dia até o final da tarde quando os noivos são liberados para conhecerem a nova casa. Fiquei imaginando o cansaço depois de tantos compromissos.

Esse assunto puxou outro: qual o padrão de beleza ? O que um homem procura numa mulher e vice-versa ? A resposta inicialmente pareceu surpreendente, mas na verdade é a regra em quase todas as civilizações: o que se quer são as características mais raras. Esse detalhe é muito bem explicado no livro O Animal Moral do jornalista Robert Wright. Bem, mas voltando ao nosso cenário, um homem vietnamita procura por mulheres altas, de pele absurdamente branca, cabelos compridos e que possua um bom sotaque. É, num país com língua formada por 5 diferentes tons além das letras, a mulher tem que saber cantar no tom correto. E a beleza do rosto ou formato do corpo ? Não são importantes.

Já a mulher vietnamita procura um homem com um bom salário e a parte inusitada é que a primeira pergunta que se faz quando se conhece alguém é: quanto seu namorado ganha ? E a segunda é: quantos anos você tem ? Essas perguntas são consideradas simpáticas e demonstram uma maneira polida de ser. Outro ponto a ser considerado é a altura do pretendente: claro que quanto mais alto melhor. Chega a ser engraçado que se deseje tanto pessoas altas num país onde todos os que vi não passavam do meu ombro. A foto ao lado ilustra essa diferença. Ao meu lado está a nossa simpática guia na cidade de Hoi An e a diferença que se vê na foto é real.

Já que o padrão é brancura Omo, as mulheres se cobrem da cabeça aos pés, literalmente, para não receber nem um raiozinho de sol. Chegam ao ponto de colocar o capacete e um chapéu por cima, sem falar no óculos e na máscara que cobre o nariz e a boca. E como se isso não bastasse, aplicam receitas caseira para branqueamento. Anota aí: misturar batata cozida com leite e aplicar no rosto durante a noite; colocar na geladeira mel misturado à gema e passar no rosto; aplicar banana amassada ou rodelas de pepino.

Mas ser branca, alta, com sotaque adequado ou rico e imenso não é suficiente. É preciso combinar o animal do Zodíaco vietnamita (muito parecido com o Zodíaco chinês). Num país com uma população superticiosa, não dá para imaginar casar com alguém cujos signos não se encaixem. Isso significa que uma mulher rato não quer casar com um homem nascido no ano do búfalo. As pessoas nascidas no ano do Tigre, como eu, são as mais rejeitadas porque, no entendimento deles, possuem características bem marcantes de determinação.

Ouvindo tudo isso parece difícil que homens e mulheres se encontrem, não ? Mas não é bem assim, é raro que uma mulher vietnamita fique solteira porque há 10% a mais de homens no pais. E isso já preocupa o governo porque a continuar assim, o país terá problemas de natalidade num futuro próximo.

Uma cidade e suas milhões de motos

Ho Chi Min é mais conhecida pelo antigo nome : Saigon. Alguns de voces deve se lembrar que esse nome já foi fonte de inspirações de músicas e filmes.

Situada ao sul do Vietnã, adotou o nome de um revolucionário que foi presidente do Vietnã do Norte. São muito orgulhosos de terem adotado o nome desse herói, como eles se referem, e principal responsável pela implantação do comunismo em 1941. Aliás, as bandeiras vermelhas flamejantes com sua conhecida estrela amarela aparecem em muitas casas, empresas e pelas ruas. Havíamos chegado um dia depois do Dia Nacional, quando comemoram algo parecido com o nosso Dia da Independência e a cidade estava toda enfeitada.

A cidade possui 4,5 milhões de motos e uma população de quase 8 milhões. Considerando que as crianças e os idosos não andam de moto, dá para concluir que todo mundo apto a dirigir tem uma. A moto mais cara custa US$7.000,00 o que e´uma fortuna para a grande maioria da população, por isso as mais populares custam bem baratinho.

Lá, uma moto carrega todo tipo de mercadoria: flores, corbélias, porcos, galinhas, filhos (de qualquer idade, qualquer mesmo !), roupas, bebidas, comidas, mercadorias de todo tipo, etc. Oficialmente pode-se carregar até 3 pessoas, mas é frequente observar 4 ou 5 pessoas numa mesma moto. Mas todos de capacete.

Não é raro observar monges e freiras em seus possantes. E não tiram o capacete nem para fazer compras no mercado ! Flagramos uma noviça nessa situação.

Os carros tem pouco espaço nas ruas e andam a 30km/h quase pedindo licença para ter um lugar ao sol. Essa baixa velocidade leva a quase zero os acidentes. Outro forte motivo é o fato do motorista do carro ser totalmente responsável por pagar as despesas de um acidente com moto que aconteça na rua.

Em poucos minutos andando pela cidade dá para observar a quase ausência de sinaleiras. E descobri que assim o trânsito não pára, ás vezes anda um pouco mais devagar, mas não pára. Mas a experiência mais inusitada ainda estava por vir: o desafio de atravessar a pé as ruas sem semáforos. No início é estranho, mas logo você se adapta mesmo porque não será por causa de um turista que as regras vão mudar. Como fazer ? Bem, basta você colocar o pé na rua que as centenas de motos fazem um ballet ao seu redor para desviar. É o que um amigo descreveu como os movimentos de um cardume no mar: imaginem algumas centenas de peixes nadando juntos e desviando harmoniosamente de cada obstáculo.

Em todo o país se vê milhares de motos e bicicletas, mas Ho Chi Min nos impressiona com sua impressionante relação motos/habitante.

O Mercado Flutuante do Rio Mekong

No Delta do Rio Mekong há um mercado flutuante onde os barcos atracam um ao lado do outro para oferecerem frutas e/ou legumes. Todo barco tem em sua proa um par de olhos pretos circundados por um quadrado vermelho que significa que aqueles olhos saberão indicar o caminho certo para a navegação. Em cada barco há uma vara de bambu que expõe o tipo de mercadoria que aquele barco está colocando à venda.

Os barcos compradores se aproximam para pechinchar e abastecer seus porões para descarregar em outros portos.

Aliás, pechinchar é a arte local. Em todo lugar, para qualquer tamanho de mercadoria ou preço, se pechincha. E o processo pode ser demorado tanto quanto um dos participantes queira. Numa ocasião terminei com dor de cabeça de tanto puxar de cá e a vendedora puxar de lá. Por mais que pensemos ter arrancado todo o desconto possível, no final sempre saímos com a sensação de que poderíamos ter conseguido mais um pouco mais.

Muitas famílias moram nos barcos, por isso dá para observar roupas no varal, crianças brincando, jovens estudando e até cachorros. Esses servem para também para guardar o barco durante a noite, impedindo assim, que algum estranho suba no barco para roubar as mercadorias.

A água do rio serve para tomar banho, cozinhar e molhar as plantas, sim, os barcos possuem plantas como aquelas que temos em nossas varandas ou jardins. Já a água para beber vem do céu e é armazenada por meio de coletores. Aliás, chuva é um recurso muito abundante por lá, por isso os rios são largos e alguns profundos. Tivemos a chance de experimentar dessa abundância.